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O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.

Mario Quintana

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Já que sou, o jeito é ser.

Clarice Lispector

 

 

 

 

 

 

 


NOVOS CURITIBANOS
NOVOS CURITIBANOS

 

 


 

Ana Larousse - A desenhista

 

 

Lembro bem do dia
Em que você chegou
Como quem não ia mais sair

Chá de tangerina
Velhas cartas não abertas
Sala pro chá das seis

Veio como quem vinha me carregar
Mas só tem as mãos a desenhar
Me desenha histórias que eu não caberia
Me atrevo a te inventar

Pode ser porque
Nunca mais será
Como te perder
Se nunca te achei aqui

E foi o desenho de um balão
Colorido com azul de céu
Que escondeu nas minhas malas
Entre os meus vestidos

Quando eu dizia adeus
E só me convida a passear
Mas me manda para além do mar
Me desenha um vôo

E eu espero
Mais que um amor de giz
E pode ser porque

Nunca mais será
É como te perder
Mas nunca te achei aqui
E foi o desenho de um balão

Colorido com azul de céu
Que escondeu nas malas
Eentre os livros e as besteiras
Quando eu dizia adeus

E pode ser porque
Nunca vai chegar
É como te esquecer
E como te esquecer?

 

 

A cantora Ana Larousse é dona de uma daquelas vozes que todos deveriam ouvir e sentir. A moça, que está lançando seu primeiro álbum, tem uma delicadeza que passa longe de ser ensossa, ela transmite uma emoção tênue, que se feita uma analogia, compararíamos com  uma bela pintura feita em papel canson e giz de tons pasteis.

Ela começou a escrever ainda quando criança, brincando com as letras ela se perdia entre seus cadernos que guardavam palavras em forma de poemas e sorrisos. De menina para moça ela resolveu morar em Paris, cidade que a inspirou para escrever ainda mais, devido ao tom bucólico que a cidade da luz projeta em seus moradores e visitantes.

Após retornar para o Brasil, se encontrou com seu amigo Rodrigo Lemos, d’A Banda Mais Bonita da Cidade que firmou uma parceria com Ana para reunir suas letras e produzir um disco. Nasceu então Tudo começou aqui, a estréia tem um nome que nos faz pensar o que começou e onde. Para responder essas e outras perguntas, conversamos com a cantora em entrevista exclusiva. Confira:

Rock’n'Beats: Suas canções prezam pela delicadeza, nos dedilhares e acordes isso fica claro já na primeira audição. Quais foram as suas referências  musicais que te levaram à esse minimalismo?

Ana: Acho que quase como todo mundo, levei pro disco coisinhas que ouvi a vida toda. Posso dizer que as referências mais fortes (por serem as que mais ouvi nos últimos anos) são Belle and Sebastian, Beatles, Little Joy, o disco Pitanga da Mallu, Beach Boys, Pink Floyd e as próprias bandas dos que trabalharam comigo no disco, como Lemoskine, A Banda Mais Bonita da Cidade e o Leo Fressato que, por ser meu parceiro mais antigo, me influenciou muito. Acho que eu consigo encontrar uma misturinha de tudo isso no disco. E fico feliz com isso ! Porque essa mistura toda deixou o disco bem colorido, bem cheio de brincadeiras e bem a minha cara. : )

 

Rock’n'Beats: A primeira canção Vai Menina fala da força e de seguir adiante, ela diz algo sobre você?

Ana:  Sim! Todas as músicas do disco (exceto Algo como essa canção, que não é minha) falam intensamente sobre mim e sobre o que vi ou vivi. Escrevi Vai, Menina  numa época bastante difícil em Paris, onde morei por alguns anos, em que precisava aceitar que eu estava crescendo e que teria que encarar o mundo de frente – e sozinha. Foi quase uma libertação terminar essa letra.

 

Rock’n'Beats: Teresinha mostra uma linda relação entre filha e mãe. É uma canção-presente? Fala um pouco sobre ela.

Ana: Teresinha é uma das canções mais especiais pra mim. Escrevi ela para minha avó quando ela faleceu. Eu estava em Paris, longe dela e, como não pude me despedir dela e nem estar perto pra dar carinho, foi o jeito que encontrei de guardar ela pra sempre comigo.

 

Rock’n'Beats: Diversas canções falam sobre infância, tempo e o mundo das lembranças de uma maneira nostálgica e feliz. O disco foi focado nessa visão?

Ana: Eu sou uma pessoa bastante bastante nostálgica . Sem pensar muito, minhas canções acabam soando assim. O disco é uma coletânea das canções que escrevi no período em que morei em Paris, não escrevi as músicas pensando num disco. A ideia do disco veio depois, quando voltei ao Brasil e conheci o Rodrigo Lemos. Disse pra ele que tinha várias canções e que queria registrar elas. Ele topou na hora e começamos a brincadeira ! Para escolher as canções que entrariam no disco, escolhi buscar as que falavam de solidão, partida e saudades, temas que me perseguiram em Paris. Tenho um jeito bem alegre de lidar com a tristeza e acredito que isso pode ser sentido no disco. Uma melancolia vestida de beleza e vontade de seguir apesar de tudo e qualquer coisa.

 

Rock’n'Beats: Como foi o processo de construção do álbum? As composições são todas autorais?

Ana:  A gente começou a gravar em fevereiro de 2011, mas logo teve o boom do clipe de “Oração”. O Rodrigo e o pessoal todo entrou num furacão e escolhemos pausar o projeto. Recomeçamos em maio de 2012. A gente tinha decidido gravar quase tudo em casa, o que traria ainda mais esse universo íntimo que envolve o disco. Em maio, passamos uma semana na casa da minha avó, aonde foi gravado o clipe de “Oração” e conseguimos adiantar 80% do trabalho. O resto fomos gravando nos intervalos da agenda dos meninos, que viajaram muito ano passado com A Banda Mais Bonita da Cidade. Pouquíssima coisa foi pra estúdio, as gravações aconteceram nas nossas casas, bem à vontade,  num clima bem gostoso.

A gente ensaiou duas vezes (sim, duas vezes !) pra levantar os arranjos . Nesses ensaios a gente só definiu a cara das músicas, para onde elas iriam e como elas deveriam soar. A gente ia criando o arranjo final no momento de gravação, a gente testava coisas até falar “é isso !”. Eu queria um disco bem intuitivo, deixando que a primeira sensação da canção fosse a final. Todos os músicos envolvidos criaram bastante, participaram das escolhas e isso foi muito legal mesmo! O Rodrigo sacou muito por onde eu queria levar o disco e ele foi o filtro perfeito pra deixar ele com a cara que está.

As canções são todas minhas, letras e músicas. Apenas Algo como essa canção é do Leo Fressato, meu parceiro de tanto tempo que resolvi homenagear nesse primeiro disco.

 

Rock’n'Beats: Então a cidade de Paris foi o grande marco para você compreender seu processo criativo. A concepção criativa deve ter mudado com o seu retorno para o Brasil,  certo?

 Ana: Foi sim. Foi em Paris que eu comecei a escrever canções com a cara que elas tem hoje, foi aonde encontrei minha “identidade” como compositora. Me identifiquei com aquela melancolia toda, aquela beleza, aquela solidão toda. Trouxe muito disso pro Brasil. O que mudou foi que comecei a compor ainda mais aqui, comecei a terminar as canções (antes eu começava, abandonava e terminava somente meses depois). Aqui eu ganhei uma puta segurança pra compor e para mostrar meu trabalho, lá eu fazia tudo muito sozinha e não tinha parceiros. Voltar pra cá e poder dividir isso com amigos compositores foi a maior diferença. Eu passei a lidar com a composição um pouco mais como trabalho e não somente como forma de expressão livre, como jeito de guardar bagunças e tristezas. Ganhei um pouco mais de razão no que antes era emoção pura e somente.

 

Rock’n'Beats: O seu estado de espirito mudou também?

 Ana: Continuei apegada à melancolia, mas passei a fazer dela uma beleza e não mais um penar. Acho que foi o que mudou em mim. A sensação de poder dividir algumas dores, saudades e partidas com as pessoas que ouvem as músicas e não mais guardar apenas pra mim. Mostrar as minhas criações passou a ser uma necessidade quase vital, me desprendi da solidão e tropecei na maior vontade do mundo de emocionar os outros, de transcender minhas emoções e fazer delas algo bem maior do que eu.

 

Rock’n'Beats: A sua relação com o Rodrigo Lemos surgiu onde?

Ana: Conheci o Rodrigo pela Uyara (A Banda Mais Bonita Da Cidade), minha amiga desde a época da faculdade. A gente se deu muito bem imediatamente e convidar ele pra produzir meu disco pareceu natural e perfeito. E deu certo! 

 

Rock’n'Beats: Quando começamos a escrever ou compor temos um momento que tomamos conta disso. Como foi com você?

Ana: Desde pequena eu escrevo, desde os 10, 11 anos. Mas minhas primeiras músicas escrevi aos 16 anos. Tive bandas punk, era outra coisa, completamente do que faço agora. Fazia músicas engajadas e queria gritar muito! rs

Foi naquele época que percebi que ou eu compunha ou eu enlouquecia. Desde então é algo tão vital quanto é comer ou dormir ou se apaixonar.

 

Rock’n'Beats: As parcerias feitas causaram influência no seu trabalho, obviamente. Conta pra gente uma que mais te marcou?

Ana: Puxa, o Leo foi, sem dúvida a maior. Mas tem também vários parceiros recentes que têm me inspirado muito! Alexandre França, Luiz Felipe Leprevost, Vinicius Nisi, Rodrigo Lemos, Phill Veras (parceira bem recente, mas que já rendeu lindas canções).

Mas você pediu pra falar da que mais me marcou e foi o Léo. A gente se conheceu na faculdade, há quase dez anos. Eu compunha rock, punk e ele MPB. A gente se apaixonou um pelo outro e acabamos misturando nossas influências. Eu passei a cantar doce e ele a gritar (como eu fazia antes). Não consigo imaginar meu percurso como compositora sem ele no caminho. E tenho certeza que é reciproco. : )

 

https://www.rocknbeats.com.br/2013/04/10/entrevista-exclusiva-conheca-o-delicado-trabalho-de-ana-larousse/

 


 

 

Léo Fressato - Não há nada mais lindo



Não há nada mais lindo
Do que amanhecer num dia de domingo
E lembrar que eu tenho você (2x)

Não te prometo eternidade
Mas dias te ofereço um milhão
E deixo você com a metade do meu coração

Meu amor
mon amour
Meu amor
mon amour
Doce é o vento ao te encontrar

 

 

 

 

Há dois anos, um rapaz de cabelo desgrenhado tentava animar os clientes de um bar em Curitiba. Cantava meio desajeitado, tocava violão de uma maneira que alguns poderiam chamar de estilo e outros confundir com amadorismo. Depois, distribuiu folhas de papel para todos e pediu colaboração para a música seguinte. A ideia era aumentar o coro, e cantar o que estava impresso ali, em letras grandes. Mal sabiam aqueles boêmios que entoavam “Oração”, música composta por Leo Fressato, que deu no que deu.

O caso é um bom exemplo para se entender quem é e o que se passa na cabeça de Leonardo Fressato dos Santos, 25 anos: ele é alguém que acredita piamente no que faz e insiste em sacudir o mundo, seja compondo músicas, dirigindo peças de teatro, improvisando rimas, cuidando de plantinhas ou fazendo amigos – algumas de suas frentes de atuação.

 

Turnê

Banda Mais Bonita toca na Europa

Depois do show da Virada Cultural, em Curitiba, e de apresentações em Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro, a Banda Mais Bonita da Cidade se prepara para embarcar para a Europa. O grupo viaja no dia 30 de novembro, e fará quatro apresentações no velho continente.

Em Portugal, o quinteto toca no dia 2 de dezembro em Lisboa (Casa do Alentejo); dia 3 em Braga (Theatro Circo); e dia 4 em Estarreja, cidadezinha no noroeste do país. No dia 7, o show é no Favela Chic, em Paris.

Ainda divulgando seu disco de estreia (que pode ser baixado pelo sitewww.abandamaisbonitadacidade.art.br), o quinteto volta a Curitiba para o lançamento oficial do álbum, com show marcado para o dia 12 de dezembro, no Guairinha.

 

“Eu desafino mesmo e não me importo com isso. Se tiver que gritar e desafinar, vou gritar e desafinar. Você que sinta o que quiser.”

Leo Fressato, músico e compositor

 

“Sou de libra, e tem um monte de libriano famoso. John Lennon, Gandhi, Cartola. Metade dos caras que fizeram coisas importantes nas artes são librianos ou arianos”, gaba-se Leo, nascido em Brasília a 4 de outubro de 1986. Para Curitiba, viria um ano depois.

 

A música que correu o mundo foi composta em dezembro de 2008, no chão de um quarto espaçoso, ambiente do 2.º andar de sua casa, que fica no bairro Mercês. Bastaram quinze minutos ao violão – “até porque a música não é um grande mistério” – e uma ideia: exorcizar um antigo amor. “Antes tinha feito uma música super-rancorosa, mas pensei: ‘meu coração só vai melhorar quando olhar com delicadeza para meus amores malfadados’”. Durante a entrevista, Leo tocou “Oração”. Usou um dedo de cada vez no braço do instrumento, às vezes nenhum. “Fui saber os acordes depois que a música estourou com a banda [Mais Bonita da Cidade].”

 

Mão pequena

 

Leo Fressato se interessou pela música aos oito anos. Mas foi como um balde de água fria quando o professor disse que sua mão era muito pequena. Nem cavaquinho servia, tinha de esperar. Então fez aulas de flauta doce no colégio em que estudava. Começou a escrever poemas algum tempo depois, enquanto ouvia os vinis de seu pai – muito Clube da Esquina e Milton Nascimento. Fez um curso intermediário de música na Escola de Música e Belas Artes do Paraná, e finalmente se formou em Artes Cênicas na Faculdade de Artes do Paraná.

 

Quando sobe no palco, Leo Fressato pega fogo. Emulando o que seria uma mistura de Renato Russo e Cazuza, o músico concentra olhares. Realmente é impossível ficar indiferente à sua performance. “Fiz pesquisas sobre os limites: o ator vive ou interpreta aquilo? Quis trazer isso para o palco”, diz.

 

E se você disser que Leo desafina, isso não lhe provoca dor nenhuma. “Eu desafino mesmo e não me importo com isso. Se tiver que gritar e desafinar, vou gritar e desafinar. Você que sinta o que quiser. Pode achar feio ou bom, mas garanto que você vai sair balançadinho”.

 

Ana Larousse, amiga de longa data e parceira mais próxima do músico, cunhou o adjetivo “fressatiano”. “É porque ele se entrega, se enfia nas canções, olha nos olhos das pessoas, chora, grita, se joga no chão”, explica Ana. Para Rodrigo Lemos, guitarrista d’A Banda Mais Bonita da Cidade, Leo não cabe em si. “Esse negócio de ‘transbordar’ não é apenas um traço pessoal, como é a maior característica do trabalho dele como artista”, conta o músico.

 

E sobre “Oração” e a Banda Mais Bonita, aliás, Leo imaginou que poderia se dar melhor. “Pensei que teria mais retorno, que mais gente saberia quem é Leo Fressato. As pessoas pensam que eu sou da banda. Isso me incomoda um pouco”, diz. Mas não há planos para que o grupo ganhe um novo integrante. “Se eu entrasse, seria como assassinar um dos trabalhos. Minha ligação com eles é como compositor. Não vale a pena para nenhuma das partes.” Há três músicas suas no disco da banda, lançado há cerca de um mês.

 

Autofagia

 

Com o fator “Oração”, algo mudou em Curitiba? A pergunta foi feita a Leo Fressato, que se saiu com essa. “Parece que a música estimulou as pessoas a produzirem audiovisual. Estão mais confiantes”, diz. Leo também tem uma teoria sobre o que um dia foi chamado de “autofagia curitibana”. “O que a gente tem de bom é que não estamos infectados pelo passado, com concepções de como as coisas devem ser feitas. Isso permite que façamos baião, MPB e rock-and-roll. Se pegar cinco caras que fazem MPB aqui, cada um vai fazer algo completamente diferente. Se os cinco forem do Rio, quatro vão fazer uma coisa meio sambinha.”

 

Leo já trabalha em seu disco solo. O plano é gravar tudo e apresentar a alguma gravadora, para distribuição. Há músicas novas e outras já conhecidas. Tudo daquele jeito fressatiano exagerado. “O que mais quero é que toquem a minha música. Pode ser o tiozinho da esquina ou a Ivete Sangalo. Pô, seria legal se ela tocasse ‘Oração’ no carnaval...”


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